sábado, 31 de agosto de 2013

Surgiu Entrevista: André da Costa e Bruno França

Como prometido, o blog já está no mês do Mais Puro Surgiu, e várias entrevistas com os integrantes do grupo, com parceiros, amigos e admiradores do trabalho do grupo vão entrar aqui no blog. A primeira entrevista foi com os fundadores do Grupo Surgiu na Hora, André da Costa e Bruno França. Todas as perguntas são elaboradas em cima de uma pesquisa que foi feita com os seguidores do grupo aqui no blog e na fã Page do grupo no Facebook que a tempo estão querendo saber de algumas coisas relacionadas a história do grupo, ou até mesmo sobre os integrantes.
Com vocês a divertida entrevista com André da Costa e Bruno França.

Blog: André tem 36 anos?
André: 37! Bem vividos.
Blog: André da Costa é o ator mais experiente do grupo, é um dos criadores do grupo junto com Bruno França. Em que fase aparece à ideia de criar um grupo de teatro?
André: Desde o momento do primeiro festival que nós íamos participar. Fomos, participamos, aí surgiu à ideia de criar um grupo de dois com o Bruno França que é meu irmão de turma e foi o único que aceitou a minha ideia maluca de fazer “A Fuga” e o “Mais do Mesmo”.
Blog: Bruno França que na verdade não é francês, tem 27 anos, certo?
Bruno: Certo!
Blog: É o responsável pelos releases do grupo quando todos estão ocupados com seus compromissos pessoais.
André & Bruno: (Risos elevados).
Blog: É também o responsável pela parte burocrática do grupo. Em que momento surge o nome Surgiu na Hora?
Bruno: A ideia do nome “Surgiu na Hora” veio do André, que era de um grupo de festa Junina que fazia shows e tudo mais. A gente estava bolando vários nomes escrotos. Iria ser “The Clowns”, seria uma coisa meio Beatles, nomes ridículos. Aí do nada o André nos seus surtos de viajaaí, aí ele falou: Surgiu na Hora. Aí eu pensei, é explosivo, é chamativo, e surgiu o nome.
Blog: Quando que o teatro começa a nascer na vida de vocês?
André: O teatro começa na minha vida desde os 5 anos de idade. Meu pai fantasiava a gente de piranha, em bloco das piranhas, e a gente tinha que ficar brincando, zoando... Por enquanto não sou homossexual... Mas começou com 5 anos de idade. Depois vem o grupo de caipira Surgiu na Hora que a gente fazia show de... Não era de palhaçaria, era show de Drag, a gente ficava zoando na madrugada, porque não tinha nada pra fazer. Acabava a festa junina, ficava aquela monotonia, então a gente resolveu agitar a galera, a gente fazia show de Drag Queen, não era pornô, era quase...
Bruno: O teatro surgiu na minha vida há três anos. Eu corria muito dessa coisa de teatro, de fazer palhaçada, de fazer coisas, troços e outros troços, eu fugia muito disso. Então teve um dia que eu fui assistir a um espetáculo do Zenas Emprovisadas, e eu achei uma forma brilhante de como os caras seguravam a plateia, de como eles faziam as pessoas darem risadas com aqueles troços que eles faziam. E eu me vi ali, achando aquilo interessante. Pra falar: Porra olha o poder que os caras têm. Pode ter na plateia gente estressada, com problema na vida, com alguma frustração, não sei, que o riso da piada dos caras estava fazendo essas pessoas esquecerem os problemas e sair até com uma paz de espírito. Foi aí que eu achei interessante, essa coisa do ato. Nisso eu procurei a escolinha de teatro aqui... Aí encontrei o primeiro Mestre, Marcelo Alonso, que foi o cara que incentivou.
Eu sempre imitava vozes na escola e todo mundo falava que eu levava jeito pra esse troço de teatro. Eu sempre fugi disso, até que o teatro entrou na minha vida e as coisas estão acontecendo.  
Blog: “A Fuga” é o primeiro trabalho no palco italiano, e é considerado por vocês como ‘horrível’. Mesmo assim depois dessa apresentação vocês foram adquirindo pessoas que foram acompanhando vocês, sempre querendo saber qual seria a próxima loucura. De fato qual foi o primeiro trabalho do Surgiu na Hora, a primeira loucura, o primeiro tiro no pé?
André: “A Fuga” cara. “A Fuga” foi o seguinte, foi um exercício do nosso professor Marcelo Alonso, que deu certo no exercício, que a gente tentou melhorar pra mostrar no festival. Passamos um sábado todo fazendo grades de TNT, tecido-não tecido, assim diz o Rafael Côbo. E nós não acreditávamos muito. Na hora o som deu problema, não conseguimos colocar as grades, a cela. Não tínhamos o vaso, não tínhamos nada. Foi aí que o Bruno perdeu a virgindade.
Bruno: Foi! Tirou meu cabaço, de palco.
André: Aí eu falei: Pow Bruno, não tem som! Aí ele falou, o que a gente vai fazer? Respondi: Merda! Levantei e a gente começou a fazer a cena. Era pra ser drama, mas sem som, sem nada, já que nós temos uma pitada de humor que virou comédia. Não digo nem horrível, digo experimental.
Bruno: Foi um troço né? Foi um troço que funcionou!
André: Que ainda não está no blog!
Bruno: Não está no blog, reivindicaremos isso aqui agora na entrevista.
Blog: O grupo hoje é completamente unanime ao levantar a bandeira da palhaçaria. Hoje o grupo não sobrevive sem pesquisas de técnicas de palhaçaria e comicidade. Quando nasce esse amor pelo circo-teatro?
Bruno: O amor pelo circo teatro nasce quando o André, em uma aula, começou a falar da palhaçaria, a apresentar os grandes palhaços, e o primeiro nome que ele me apresentou foi o Claudio Carneiro, Avner e depois começamos a mergulhar de cabeça nos estudos. Nisso começamos a encontrar grandes Mestres. A primeira trupe de circo foi o coletivo do grupo Namakaca, que é um grupo de São Paulo, onde nós conhecemos o Cafi e o César, que fazem parte dessa trupe, e lá nós conhecemos a Alê Bernardes. Que era uma das professoras do Projeto UZINA (Laboratórios de Artes e Produção Cultural) do Sesc, que nos falou que tinha um trabalho de circo-teatro lá, um trabalho de pesquisa de circo, e quando nos inscrevemos nós conhecemos a Alê, que integra a parte técnica do Teatro de Anônimo, A Diana Bloch e o Fábio Freitas, que hoje eu considero meu Mestre de palhaço. Ele que compõe o Teatro de Anônimo. E depois disso fomos nos aprofundando em outros estudos. Eu me envolvi em uma oficina, "Jogo como Técnica" com João Carlos Artigos que é um dos grandes fundadores do Teatro de Anônimo que me ensinou muito na oficina dele e ensina muito nas oportunidades que temos de estar juntos. Depois eu e o André fizemos uma oficina de corpo cômico com o Roberto Rodrigues que é do Grupo Milongas. Que nos apresentou também o seu grande trabalho de palhaço e o Roberto está ligado com todo esse pessoal do Teatro de Anônimo, do pessoal do Namakaca e que o grupo dele, o Milongas, também está envolvido nesse mundo.
E depois o grande mergulho foi ter contato com Márcio Libar, um dos grandes nomes da palhaçaria clássica aqui no Brasil. Ter participado do “Grand Cirque Du Messiê Loyal”, ter tido essa experiência de aprendiz de palhaço com ele, e eu busco estar trazendo um pouco dessa filosofia que eu aprendi com o Libar pra dentro do grupo. Aqui com o André a gente discute muito, troca muito e vai trazendo a filosofia pra cá. Já conseguimos mandar outra integrante do grupo através de concurso, quando tem, pra estar fazendo essa imersão com o Márcio Libar. E uma das grandes transformações assim de outro aprendizado, foi ter tido a oportunidade de participar da Oficina do Fernando Lopes Lima, que é a “Oficina de Palhaçaria para atores para acabar de vez com a frescura” ao qual todo o grupo teve a oportunidade de participar da oficina de um grande nome, de um grande artista. Que pelo menos pra mim foi uma descoberta muito grande, que eu via como um louco e quando conheci mesmo, vi que era uma grande mente brilhante. Um super artista. Então a palhaçaria cresce cada vez mais dentro do grupo, e o que vai acontecer só o tempo dirá.
André: Desde o começo nós levantamos essa bandeira e está explícito isso, é o que nós queremos. Na escola o professor perguntou o que a gente queria, porque o teatro tinha muitos caminhos e nós escolhemos a palhaçaria, tanto é que o grupo todo estuda essa forma de teatro, e eu apresentei esse mundo ao Bruno, que ainda era um bebezinho, em relação ao teatro, e eu era um pouquinho só mais experiente que ele, já tinha feito “O Noviço” em Araruama, minha Mestra Ângela Dantas, mãezona lá... Beijo Ângela! Tá ao vivo? (Risos)
Blog: Qual foi a fórmula para “Por uns ‘Real’ a Mais” ter uma aceitação tão grande por parte da plateia na sua história tão simples e com personagens tão cômicos?
André: A história do “Por uns Real” foi em “Saltimbancos” (espetáculo do Cirque Du Soleil) quando eu vi um número de palhaçaria falando de faroeste, aí virei pro Bruno e perguntei, vamos? Ele disse vamos. Nós escrevemos o texto. Aí eu estava recém-operado de Prognatismo, fui trocando uma ideia com o Bruno, e é uma comédia pastelão. Muito a nossa cara, não é Bruno? E tínhamos adquirido um pouco mais de experiência por causa do UZINA e convidamos pessoas especiais que talvez vão ser falados mais tarde... A fórmula é essa, se entregar, viver o momento presente, se divertir.
Bruno: A pesquisa pode não ter sido considerada em Cabo Frio, mas eu vou considerar essa porra! Porque eu acredito que você passar dois meses assistindo filme de velho oeste, pegando movimento de atores, de personagens clássicos, exagerando e tirando comicidade disso é uma forma de pesquisa, maaas... Se não tem senhores que acreditem nisso, não vê que o teatro pode ser tirado da vida, como o André me ensinou que o teatro tem que ser vivido. Não acredito que teatro tenha que ficar preso a livros... Não desmerecendo Stanislavski, Grotowski, os outros. Eu acredito que se você vive o momento presente, acreditando naquilo, porque não pegar os clássicos do velho oeste, satirizar e transformar em teatro?
Blog: Existe um ser vivo, um personagem, uma história em quadrinhos que tenha servido de inspiração para a criação e a evolução de “Tuco El Magro”?
André: Houve uma pesquisa de filmes, postura de personagens, que eu tentei exagerar nisso, que eu tentei, sei lá, na minha forma de ser, em caricatura. O que me ajudou na pesquisa foi eu ter ficado em casa, por causa da cirurgia de prognatismo, fiquei de molho e assim consegui desenvolver o “Tuco”.
Blog: O esquete “Mais do Mesmo” foi o que deu a André da Costa o prêmio de Ator Revelação no 4º Festival de Esquetes do EMAD (Escola Municipal de Artes Dramáticas - Nilópolis-RJ). Quais os trabalhos vocês consideram os mais bem produzidos, os mais planejados para que realmente dessem certo e chegasse até a base de serem premiados?
Bruno: Que prêmios? (Risos) Sacanagem... Eu acho que acreditar. O grande prêmio vem da plateia. Quanto mais a gente acredita, e faz a coisa com amor e verdade, aí a gente é reconhecido e os prêmios chegam. A base, a fórmula é essa.
André: Pra um trabalho dar certo, a gente não se incomoda com a opinião dos outros, a gente se incomoda com a opinião do grupo. Se a gente está se divertindo e a plateia está se divertindo junto com a gente, esse é o objetivo. Porque tirar aplauso eu acho fácil. Difícil é tirar sorrisos. Eu acho o sorriso mais difícil, eu acho o sorriso mais sincero. E aconteceu isso com o “Mais do Mesmo”. “A Fuga” o pessoal também conseguiu rir. E no “Por uns ‘Real’ a mais” foi... E teve “O Fim do Mundo” também, que fizemos na rua, eu gostei muito que mostrou nossa personalidade também, e tipo foda-se a crítica dos outros, nos divertimos muito e é isso que importa. O segredo é diversão, nossa vibe é essa e quem não gostar, problema!
Blog: Hoje o grupo não está com vagas abertas para novos atores, mas se tivesse quais seriam os principais requisitos para entrarem no grupo?
Bruno: Ser gostosa! Ter um belo par de seios...
André: Não pode ser grávida...
Blog: Tem grávida no grupo?
Bruno: Depois alguém vai responder isso!
André: Os requisitos é ser autêntico, ser divertido, e o resto a gente da um jeito. Quando eu e o Bruno começamos a ver as pessoas, nós vemos a essência, porque o grupo cai na porrada,  eu e o Bruno brigamos em off... Tipo, ir pra praia! Brincadeira. É a essência mesmo, nada de fanfarrão.
Blog: Porque o atual grupo está dando certo? Na visão de vocês existe uma receita certa pra grupo dar certo?
Bruno: Acreditar! Se o coletivo se determina em acreditar no que está sendo proposto, se o coletivo esta disposto a transparecer o mesmo pensamento de trabalho, com certeza é isso que da certo. Tantos coletivos fazem dessa forma e dão certo. Se tiver que resolver alguma coisa, resolvem naquele momento. Tudo é o coletivo, é acreditar no grupo que você trabalha e viver a filosofia, traduzir isso... Nem sei mais o que eu estou falando... (Risos)
André: Eu vejo o seguinte, é a mesma visão e também negócio de ator, vaidade, é muito vaidoso e a gente procura isso nos nossos Mestres e a gente não encontra. Existe vaidade sim, mas também é necessário ceder, um aceitar a ideia do outro, por exemplo, eu queria que tivesse Xerife quando eu estava escrevendo “Por uns Real”, mas o Bruno não queria ser Xerife, então a gente brigou. Foi uma merda!
Bruno: A porrada comeu!
André: Aí eu tive que recuar. A receita é essa, trocar ideias, e um dia alguém tem que abaixar a cabeça.
Blog: Teve uma pessoa que pediu pra vocês resumirem o grupo, tudo o que rolou nesses dois anos de trabalho...
André: Resumir é complicado né? Surgiu na Hora! Amigos entraram, amigos saíram, amigos ajudam, simplicidade sempre!
Bruno: Ai que fofo! Cara, resumir? Sei lá, eu acho que nesse longo de dois anos... A gente nem achava que iria durar dois anos. Quando a gente criou o grupo, a gente achou que depois do festival ia cada um seguir o seu. Porque eu trabalhava na Caixa Econômica Federal, o André trabalha no laboratório, só que ai o troço, essas doideiras que fomos criando foram dando certo. E a gente foi vivendo e crescendo e não criamos expectativas. Resumindo o Surgiu na Hora, somos um grupo que não cria expectativa, é um grupo que só vive. 



Assim encerramos a primeira entrevista do nosso blog. Semana que vem tem a próxima entrevista, e será do Bruno Lima e da Maria Azevedo. 

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