Dois dias do mais puro Surgiu em Mesquita na Praça do
Cosmorama, ficamos muito felizes e gratos com a platéia que investiu tempo,
alegria e sorrisos conosco, para tornar esses dois dias mágicos. No primeiro dia 21/02 tivemos a estréia do novo espetáculo “Cinzas de La Quarta” um mergulho do
grupo na comédia dell’arte e Palhaçaria clássica, no clássico triangulo amoroso
entre Pierrot, Colombina e Arlequim. No dia 22/02 a noite seguiu com “Histórias
saídas de uma mala” espetáculo contemplado com o prêmio “Culturas Populares –
100 anos de Mazzaropi” do Ministério da Cultura e que teve uma bela crítica
escrita pela fotografa e Bacharel em Direção Teatral pela UFRJ Marymília Fatah.
Agradecemos de coração a todos que contribuíram para esses dois dias de
ocupação ter sido da mais pura e alta potência que são: a amiga e companheira
de arte Daiana Martins, os amigos do Cosmorama news, Luis Pimenta, Marcelle Abreu,
Priscilla Sued (Estação Cultural), Marymília Fatah, Rennan Cantuária, Renata
Alves, Claudio Cavalcante, Secretária de Cultura de Mesquita, Marcus Guarnier,
Danilo Ségio, Xavier, Ju Martins e todos os moradores do município de Mesquita
que nos assistiram.
Nossa missão é disseminar a arte do ser e fazer feliz e
muito em breve estaremos de volta com mais dois dias de ocupação.
PICADEIRO!!!!
Confira a Crítica de Marymília Fatah da peça “Histórias
saídas de uma mala”
“A Praça do Cosmorama
fica localizada um pouco depois do estádio de futebol do América. É uma vasta
praça com pista de skate, alguns bancos e com uma estrutura muito próxima a
algo que sugere um teatro — com plateia feita de enormes degraus de cimento e uma
semi-arena de frente para essa plateia e de costas para o resto da praça,
imediatamente próximo à pista de skate —, mas que poderia também ser a
arquibancada de uma quadra de esportes.
E foi lá que o
grupo Surgiu Na Hora resolveu disputar mais um jogo contra a falta de incentivo
à arte que assola a região da Baixada Fluminenese. E aí é importante salientar
que não se trata de inércia artística — produz-se muita arte na Baixada
Fluminense, e arte que nada fica a dever a nenhuma produção dos nossos vizinhos
cariocas.
A concentração para
esse jogo não contou com nenhum esquemas especial. Foi feita ali, na frente do
público de mais ou menos cem pessoas que, sentados naqueles degraus de cimento,
foram chegando espontaneamente, trazendo consigo objetos da realidade dos que
possuem apenas aquela praça como opção de lazer: alguns moleques com suas
bolas, meninas com casquinhas de sorvete e até um cachorrinho que parecia
bastante interessado no desenrolar da cena e que acabou contracenando com a
trupe.
Já no primeiro
tempo, o grupo partiu para o ataque e dominou não só o meio do palco mas também
pequena e grande área daquele espaço com sua estética mambembe e com maestria
se apoderou das palavras e dos gestos para fazer o público mergulhar no mágico
universo do teatro de rua. Gol de bicicleta! A galera foi ao delírio com uma,
duas, três, quatro, cinco figuras interessantíssimas que começavam a se exibir
naquele campo adversário, mas que jogavam como se estivessem em casa.
Como uma torcida
organizada, os atores puxavam coros e palmas para os hinos do folclore
suburbano e houve, em diversos momentos, a expectativa de o público se levantar
em ondas com bandeiras e estandartes escritos "SURGIU NA HORA".
Driblando a falta
de iluminação adequada — as únicas luzes eram as dos postes que ficavam atrás
do palco improvisado —, os atores se apossavam da bola a cada vez que o
adversário tentava uma movimentação. Os barulhos da praça se converteram em gol
contra— da parte do time adversário — pelo excelente preparo em teatro físico
que nossos artistas possuíam, aliados à forte presença cênica, atenção e escuta.
Quase no final do
primeiro tempo, um grupo de hoolingans bate-bolas ameaçaram invadir o jogo, mas
já era tarde, a posse de bola era do Surgiu Na Hora e eles não a entregariam
tão fácil a seus opositores. Usaram a situação a favor, interagindo com esses
clóvis como verdadeiros clowns e mostrando que o artista de rua é mais malandro
que os malandros das quebradas.
A essa altura, por
diversão, decidiram bater uns pênaltis. Acrobacias, malabarismos, truques de
mágica e gags encantaram o público e iam fazendo a torcida crescer — em número
e êxtase — ao longo do jogo cênico. Como bons palhaços, eles souberam formar
uma roda e mantê-la. Gol de placa ou de palhaçaria! E clássica! Um clássico!
Nossos artistas
atletas não pediram pausa entre um tempo e outro e, logo no começo do segundo
tempo, surgiram na hora com mais um jogador que, como todo bom elemento de teatro,
subverteu a regra e dispensou a substituição de um por outro, sem tomar sequer
um cartão amarelo. Àquela altura, todos nós — plateia e juízes daquele jogo —
já tínhamos sido comprados não por cartolas mas por grandes narizes vermelhos.
Ao final do jogo, a
grande massa foi convidada a invadir o campo e celebrar mais uma vitória do
teatro popular, que resiste à falta de investimento do poder público.
Fomos plateia e
torcedores daqueles atletas atores. Fomos patrocinadores — como bem disse Bruno
França, integrante da trupe, 'patrões anônimos' de um tipo de entretenimento
pelo qual somos sim interessados, que queremos sim e cuja arquibancada lotamos
sim.
Quando aqueles seis
destemidos e determinados artistas ocuparam o espaço daquela praça escondida na
periferia da periferia, estavam devolvendo o teatro a quem de fato lhe
pertence: ao povo e à rua. À ágora. Agora é a hora de surgir vergonha na cara
dos governantes e começarmos a ver grupos como o Surgiu Na Hora serem
patrocinados para que possam desenvolver trabalho e pesquisa continuada em suas
artes, a fim de que toda aquela magia se repita em todas as praças da região.
Facilitar a disseminação da arte é uma das primeiras manobras para que o jogo
político seja limpo. Somente dessa forma todos saem ganhando."
(21/02 Cinzas de La Quarta - foto Marcus Guarnier)
(22/02 último dia Histórias saídas de uma mala - foto Ju Martins)